O CRISTÃO
PODE
TER
MEDO???
"Levanta-te, toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito...E
levantando-se ele,
tomou o
menino e sua mãe, de noite, e foi para o Egito".
(Mateus 2:13,14)
Quando falamos em medo esta
palavra soa para nós como um extremo oposto da fé que temos na proteção de Deus.
Desde que nos convertemos ao evangelho, a maioria de nós aprende que o cristão
não pode ter medo, que não pode ser um medroso, porque vivemos debaixo
da proteção divina. E isso é evidente haja vista que servimos ao General que não
perde batalhas - Jesus. Somos servos
do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Sendo assim é óbvio que não
devemos ter medo.
Diante desta conclusão que nos parece tão
justa, por vezes ficamos estupefatos com notícias de cristãos que morreram em
situações nada diferentes da dos ímpios. Tiroteios, balas perdidas, acidentes
fatais, assaltos, violências, etc. E diante desses fatos, perdemos um pouco
daquela fé na proteção "sob o esconderijo do altíssimo".
Chegamos a questionar: "-Estaria aquela pessoa que
morreu naquelas condições sem fé, ou com algum pecado escondido?" Este é um julgamento
injusto por dois motivos: Primeiro, que são muitos os cristãos
que já morreram nas mais diferentes situações de acidentes e violências.
Segundo, que conhecemos também pessoas que se dizem cristãs,
que andam muito erradas, e nem por isso perderam a vida.
A verdade
é que a maioria dos cristãos não tem discernimento das palavras medo e precaução. Ouvimos sempre cristãos que afirmam em
tom de autoridade: "-Eu não tenho medo de nada...tenho muita
fé..." Difícil é encontrar conexão da fé destas pessoas com
a ocasião em que José e Maria fugiram de noite para o Egito, e logo com o menino
Jesus junto deles, o que nos faz
pensar que a proteção de Deus é evidente, mas no entanto tiveram que
literalmente fugir. Muitas vezes o
excesso de autoconfiança acaba por resultar em tragédias, como o caso de um
pastor que, ao ser assaltado, abriu velozmente o salmo 91, e antes que ele
começasse a ler o primeiro versículo, o assaltante, no susto, o matou com um
tiro.
Fé é crer
na providência de Deus, é saber esperar com paciência a resposta divina, mesmo
nas provações, como foi o caso de Jó, que sendo um homem justo, a tragédia tirou
a vida de seus filhos, e mesmo assim não abandonou a Deus, como aconselhou a sua
esposa num momento de desespero. Diante desta fé, Deus o retribuiu tudo em
dobro. Muitos destes que dizem não temer a nada, que tem muita
fé, diante de uma perda familiar, pensam logo em abandonar o Caminho do
Senhor.
Um grande problema é que muitos de nós aprendemos um
evangelho de soluções imediatas! Para arrebanhar uma quantidade maior para os
templos, alguns líderes chegam a prometer: "Venha pra cá, e nenhum mal te ocorrerá".
Poucos querem servir ao Deus de Jó, poucos os que pregam o versículo que diz
"No mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo". (João 16:33) Uma grande quantidade
de crentes quer um Deus-Alívio-Imediato. Compromisso com a seara, visitas,
evangelização, oração, nada disso! Querem entrar numa destas "Campanhas
Milagrosas" e ver suas vidas regaladas e protegidas por Deus como num passe de
mágica. A Bíblia se torna um acessório no guarda-roupa deste tipo de evangélico.
Serve para identificá-lo como crente, já que em outras atitudes dele nada se vê
de cristão. Serve também para ele ficar meia-hora tentando achar o texto da
leitura oficial na igreja.
E no meio desse cristianismo básico,
seguido por este tipo de crente, nascem os pseudopregadores das horas vagas.
Aquele colega de trabalho, que na hora do cafezinho parece saber muito de
Bíblia, e quer ensinar a todo mundo o que é ter fé. E do ensinamento de
alguns destes autodidatas da Bíblia, aprende-se que o cristão é um destemido, um
supercorajoso, que a nada teme e todos temem a ele. Que entram em qualquer
lugar, a qualquer hora, e com ele não há "tempo ruim". Quase sempre tudo isso é
dito da boca pra fora. Medo todo mundo tem (dependendo da situação) e isso
ninguém pode negar. Mas estes ensinos acabam por gerar reações, principalmente
para quem é novo na fé, que acabam atropelando o bom senso e a razão, por mera
vergonha de passar por medroso, quando a Bíblia ensina o cristão a ser
vigilante!
"Se tu és o
Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque está escrito: Aos seus
anjos
dará ordens a
teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.
Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu
Deus". (Mateus 4:6,7)
O medo pode estar ligado a um fato que
realmente pode trazer mal resultados. Por exemplo, uma pessoa que tem medo de
atravessar uma avenida em que os carros transitam em alta velocidade. É lógico
que o receio da pessoa de ser atropelada é sentido por qualquer pessoa normal.
Um atropelamento é um acontecimento provável se houver falta de cuidado. O medo
normal é humano. O medo desmedido sim é doença. A própria ciência busca através
de tratamentos a busca do equilíbrio entre o medo necessário à própria
existência, e o medo desmedido que angustia a alma.
Muitas
pregações condicionam o sucesso do cristão (principalmente material) na ausência
de medo, alegando que aquele que tem sua fé fundada na Rocha Eterna não pode
temer a nada. De fato, ter fé, em tese poderia significar não ter medo. Mas na
prática a coisa não funciona assim. Somos instáveis, temos preocupações, nossas
mentes trabalham até quando dormimos e, por estas características e condições, é
impossível que não sejamos acometidos pelo medo.
A diferença é a fé
que nos resgata para o equilíbrio, que nos dá força para vencê-lo, não para
eliminá-lo. A Bíblia é pródiga em mostrar a face humana do medo, em tantos
heróis da fé: Moisés, Elias, Davi, e os apóstolos. Ora, se até mesmo o filho de
Deus, em circunstância limite, experimentou o medo (Jardim do Getsêmani) por que
o pobre do cristão ao senti-lo estará confessando falta de fé?
Este artigo jamais pode ser encarado como uma apologia ao medo, a
covardia, mas a se ter precaução, ao cuidado que o cristão deve ter num mundo
que jaz no maligno. Paulo já havia tido o encontro com Jesus no caminho de
Damasco, mas nem por isso dispensou o cuidado de descer num cesto pelo muro, do
contrário teria sua vida ceifada.
"Mas as suas
ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e, como eles
guardavam
as portas,
tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida,
tomando-o de noite
os
discípulos, o desceram, dentro de um cesto, pelo muro". (Atos
9:24,25)
E a Palavra de Deus ainda nos
adverte:
"Fugi de toda aparência do
mal". (1º Tessalonicenses 5:22)
Isso nos
mostra que nem sempre a palavra "fugir" está ligada ao medo ou a falta de fé, mas
a cautela. Assim como a palavra "medo" não revela níveis de fé, mas no momento
certo, nos livra de tentarmos a Deus. Veja bem, a Bíblia
diz:
"Ora, nós sabemos que Deus não
ouve a pecadores". (João 9:31)
E também
afirma:
"Se dissermos que não
pecamos, fazemo-lo mentiroso". (1º João 1:10)
Ora, se somos todos pecadores, então Deus não nos ouve?! Vemos aí
que há uma diferença em pecar e viver no pecado. O mesmo tratamos aqui sobre o
medo. Uma coisa é você sentir medo diante de uma situação. Outra coisa é você
viver uma vida de medo, temendo a tudo! O medo não pode roubar a sua fé, assim
como a falta de medo também não pode deixar você tomar atitudes precipitadas.
Vamos tomar, por exemplo, a passagem em que o Senhor Jesus nos
aconselha:
"Pois qual de
vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as
contas
dos gastos,
para ver se tem com que a acabar? Para que não aconteça que, depois de
haver
posto os
alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer
dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar".
(Lucas
14:28-30)
Aqui o Senhor Jesus não joga um balde de
água fria na nossa fé, mas nos ensina a sermos cautelosos! Que nós venhamos não
a nos tornar medrosos, mas cuidadosos com algo tão precioso que Deus nos deu: a
vida. Que venhamos a ser sóbrios e vigilantes, como bem nos recomenda
Pedro:
"Sede
sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando
como leão, buscando a quem possa tragar". (1º Pedro
5:8)
"Para que sejais filhos do Pai que
está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva
desça sobre justos e injustos". (Mateus 5:45)
"Portanto,
sede símplices como as pombas e prudentes como as serpentes".
(Mateus 10:16)
Denis de Oliveira é
pastor-presidente das Assembléias de Deus, Ministério Poder de Deus,
RJ